domingo, outubro 30, 2022

bebi o frio

 

bebi o frio

hoje o dia não teve o sabor de outono/inverno
o sol foi de inverno.
para me aquecer por dentro
deambulei pelas avenidas,
em busca de uma voz,
a tua.
continha frio na alma.


tinha sede de ti.
queria saciar aquela secura,
com a tua voz.
a secura me cortava a faringe,
bebe-la até ficar farta.



rasguei a visão
e sem folgo
emaranhei-me nas linhas do dia.
os gestos moldavam a solidão,
toquei a tua ausência
e o folgo foi desejo da tua ternura.



perdi a idade, os meus 18 anos
arrefeceram, resvalaram no teu corpo
só existe o murmúrio de um amar
em palavras guardadas por mim



já tudo me falta
até o ombro infindável das ilusões



e a saudade existe por termos estado juntos.



helena maltez


sábado, outubro 29, 2022

vida


 


vida



o dia chegou puro.

os olhares falavam num silêncio

onde as palavras tinham todas um nome

e a eternidade se fechava sobre um corpo

parado nas águas, entre os espaços

para assistirem ao nascimento das árvores

o grito do verão ressoava entre formas mudas,

delicadas, impregnadas de delírios imaginários.

alguém parte o silêncio e o transforma

em sons vergados, sensíveis às palavras vivas,

atrás fica uma vida, remexida desalmadamente

numa leveza, estrangulada entre dedos

olhares bailam enfeitiçados sobre as áscuas…

murmuram ao longe, frases ríspidas e frias

o vento arrasta soprando as vozes em pedaços,

agarrando a vida, que deseja invencível

lento, leve e moroso deixa respirar o dia.

mergulha na alegria suplicante da voz

onde ardem, na alma, chamas de desejo

assumido num jogo de amor único

escapa-se o pensamento, afunda-se

dentro da paixão voraz,

espelhada no sorriso dum peito aberto

o fio liga a veia, no abraço da morte

triunfante, a festa tornou-se imortal,

sufoca de júbilo,

entre palavras que passam a correr

o momento, amadurece na terra

cativo do nome que persegue…

helena maltez

 

terça-feira, outubro 25, 2022

abrigada em ti...


 

a rocha vestida de algas

serve de repouso,

e ali te contemplo meu mar.

vejo-te numa vastidão sem limites

enquanto me salpicas os pés descalços

parecendo carícias amistosas.

na tua cor azul dourado e transparente

procuro decifrar um nome oculto

como se ele pudesse chegar até mim,


junto de ti, místico mar,

deixo-me prender pelas gaivotas

enquanto dançam misteriosas,

e espero a voz,  companheira

de um tempo,  sem tempo.


mar, conheces bem o segredo

a dor que agora existe

onde outrora testemunhaste alegria.


escuta as minhas palavras,

sente a solidão que há em mim..


a voz é dorida, carrega suplicas,

o caminho arrasta o silêncio que fala

conto os minutos na ausência inesgotável

e o sonho tem a forma de um rosto.


sem guarida abrigo-me dentro dele

como a sede de uma miragem!




helena maltez


segunda-feira, outubro 24, 2022

silêncio de um caminho


 

o silêncio de um caminho

     

um trocar de palavras em silêncio
um sentir sem olhar...

    

a tua pele sabe a sal

descanso repousada no teu corpo

bebo da tua boca

e estreitavam os nossos lábios

           

quero os teus braços nos meus

e sinto as sombras de árvores e flores

     

afinal és terra na paisagem que descanso,

de mim já nada quero

só um tempo a andar comigo,

sem abrigo escondo-me da ocasião

     

o corpo já não espera por ti

não conhece e não vê nada


fica a luz do teu caminho... a saudade que em mim existe!


     

helena maltez

a colheita da hora


 

a colheita da hora

                      

             

à beira dos degraus

equilíbrio nomes,

aromas, datas vestidas

marcas leves

estruturas cimentadas.

                                

              

o café da manhã

foi imagem distorcida,

emoção suspensa,

ideias místicas.

                             

                

encostado à parede

és gesto de silêncio,

na sombra de tantos invernos

rosto frio de um janeiro denso

cruzado no mar de todas as horas

onde desprendo o olhar.

                        

          

importante é beber e respirar

até ao fim da confluência da mistura dos azuis

entre tantos céus onde as nuvens partem sons

e engolem o pó que escrevo

na distância do limite do tempo

                            

                 

caí à terra a semente e no tempo

o fruto será colheita…

               

                    

helena maltez

  o teu sorriso no esplendor de uma suave explosão chega a mim o teu sorriso. aflui com emoção e calor, como sonhos mesclados nos en...